Monday, September 11, 2006

Riqueza



Mas por que você lê tanto filha?O que tanto procuras com essas mãos de esmeralda calejada,menina?Por que andas tão calada?Tu que tanto falas.Tu que tanto tropeça nas palavras.
Eu não sei, mas um dia me disseram que pessoas faziam isso.E hoje, há umas duas horas atrás mais ou menos, me deparei fitando um velho asquerozo,traços fortes,feição repudiante esquecido no chão da calçada.A calçada da qual todos os dias passo para comprar os sempre cinco pães.Eu caminhava.Longe.Dispersa.Egoísta.


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Eu não sabia de onde aquilo saia.Ecoaram pelos meus ouvidos,encharcando meu cérebro.Parei.
Por um instante um calafrio me tomou.E cada vez mais a voz revoltosa e imponente sobrepunha minha mente.


(...)Tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Embora a voz árdua, a dentição amarela, o fedor do lixo em volta, as formigas que caminhavam no pé esquerdo, a barba bege por fazer.O livro segurado com força.Escudo.Refúgio.Herança.
Como aquilo soava feito música dentro de mim.Notas serenas.Claras.Limpas.
Algo fermentava do lado de dentro.
Pela primeira vez chorei,não foram os olhos que lacrimejaram.O coração.
Talvez eu devesse sentir o gosto disso.
Estou tentando mãe.


(by me)

3 comments:

Anonymous said...

humm num sabia q c tinha blog.. axei bunito isso aki.. parabens.. depois da uma passadinha no meu eh: http://www.overyourhead.blogger.com.br

bjos ethii, inteh outro dia

Anonymous said...

O primeiro poema teu que me estonteou. Toda a situação familiar que envolve o diálogo da mãe com a filha, em oposição ao miserável solitário na rua. Tudo me surpreendeu.
Só não consegui desvendar mto bem o que seriam os trechos em itálico que menciona os "sonhos do mundo". Será a garota lendo, ou o mendigo que lia enquanto ela passava? Acho que a segunda opção é mais provável.
Não sei, mas o que importa é o impacto que causa na passante a situação do pendinte que não tem nada, a não ser um livro que agarra com força, como "Escudo, Refúgio, Herança". A transformação que isso provoca na garota é muito lindo. Pelo menos eu achei. Ela passa a ler para saber qual a sensação que aquele miserável tinha, agarrado a um livro.
E o título foi escolhido com maestria. Questiona o significado da palavra "riqueza". Quem teria riqueza, a garota ou o mendigo? A leitura seria a verdadeira riqueza do ser humano. É como se a garota houvesse se questionado: "que coisa seria essa que traz 'todos os sonhos do mundo' a alguém que não é nada, nem será, nem poderá ser?"
E a busca para essa resposta transforma a vida da garota. Muito lindo. Tanto que tenho que me conter para não escrever um livro inteiro sobre teus poemas, hihihihi.
Uma obra de arte!

Anonymous said...

Nossa, que lindo o que vc escreveu moça...