Monday, September 11, 2006

Riqueza



Mas por que você lê tanto filha?O que tanto procuras com essas mãos de esmeralda calejada,menina?Por que andas tão calada?Tu que tanto falas.Tu que tanto tropeça nas palavras.
Eu não sei, mas um dia me disseram que pessoas faziam isso.E hoje, há umas duas horas atrás mais ou menos, me deparei fitando um velho asquerozo,traços fortes,feição repudiante esquecido no chão da calçada.A calçada da qual todos os dias passo para comprar os sempre cinco pães.Eu caminhava.Longe.Dispersa.Egoísta.


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Eu não sabia de onde aquilo saia.Ecoaram pelos meus ouvidos,encharcando meu cérebro.Parei.
Por um instante um calafrio me tomou.E cada vez mais a voz revoltosa e imponente sobrepunha minha mente.


(...)Tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Embora a voz árdua, a dentição amarela, o fedor do lixo em volta, as formigas que caminhavam no pé esquerdo, a barba bege por fazer.O livro segurado com força.Escudo.Refúgio.Herança.
Como aquilo soava feito música dentro de mim.Notas serenas.Claras.Limpas.
Algo fermentava do lado de dentro.
Pela primeira vez chorei,não foram os olhos que lacrimejaram.O coração.
Talvez eu devesse sentir o gosto disso.
Estou tentando mãe.


(by me)

Thursday, September 07, 2006

Incêndio na casa 18


A boca seca,rachada.Uma sede infinita.Um desejo.Vontade de encontrar alguém.Não vários,apenas um.ELE.
Alguém nunca visto,nunca barato,nunca usado,nunca...
Um longe desse mundo.Mãos limpas.Uma mente que pensa.Escreve.Um incopreendido.
Navegando longe da decepção, sem mentiras.Eu sei,o impossível!
A língua viva, quente e macia que percorre.O olho dança.A mão suada pega.Aperta.Estraçalha.Enlouquece.
Na linda casa mostarda um vazio ensurdecedor.Os dois EUS se chocam.
O lábio treme.O pêlo ouriçado.
Seus desejos descem pelos calcanhares.Sobem pelas escadas.Escapam pelas brechas.
O lençol então amassa.
Bum.Explode!
(by me)

Tuesday, September 05, 2006

Rotina





Com as janelas fechadas o cheiro de insenso permeia suas narinas enquanto o livro na ponta da cama folheia isoladamente.O ventilador ligado no três.Na taça em cima da escrivania há uma insignificante gota vermelha.
A música tenta se engafinhar nos seus imperfeitos ouvidos.
O telefone toca compulsivamente pela sexta vez.A ventania do lado de fora produz um barulho irritante no portão de aluminio.
Em uma linda manhã de domingo há uma pílula passeando por entre seu corpo...uma..duas...três...guarda mais cinco pra depois.
E todo mundo sabe;ela não combina com o seu dia-a-dia, aqueles a qual você tanto aprecia de sol brilhante e gargalhadas na beira da piscina.
Os dentes trincados e ela não combina com toda esse seu estilo de felicidade azul.
37 anos e ela continua como naquela época dos seus 21,a fugir das supostas boas intenções.Inúmeras esquecidas dentro do guarda-roupa.
Seu nome de anjo nunca influenciou o fato de enxergar o lado bom daqueles garotos populares da sua cidade
ela apenas sorria...corria...zombava escondida.Existia sempre um mesmo tom no modo de falar!
Mas tem guardado as pétalas em uma caixa colorida,todas secas, escuras,todas a salvo.
Através dos seios e barriga nús...o corpo pressiona o chão frio...a sensação é boa.
Pelo espelho embaçado,seu olho esquerdo desperto observa.
O efeito deve estar passando...longe o telefone ainda toca.Falta o trabalho,não há tempo para uma linha criativa há três dias.
Percebe os gordurosos fios de cabelo,cria forças.Levanta.Cai.Levanta.O quarto bagunçado a reflete.
A água gelada inunda todo o seu corpo então solta um gemido de alívio,enquanto Beatles pergunta através da música " de onde vem as pessoas solitárias?"Eleanor Rigby sempre a faz chorar incosoladamente..mas dessa vez o rosto se apresenta estático.
Veste a melhor roupa.O rosto pintado.Senta na cama e calça a bota opaca.
Com dificuldade destranca os dois cadeados da grade.Respira fundo e estampa o sorriso de cada dia.
(by me)

Monday, September 04, 2006

visita.


Dormi por tanto tempo sozinha dentro de algo desconfortável e apertado
Agora me libertei, sou uma alma vagando no vazio do seu quarto,
Te admirando,
Apreciando tuas formas
Deus,mesmo com alguns fios brancos tu continuas lindo,
Olho cada membro que um dia pertenceu a mim...parte por parte...
Tento tocá-lo,falha tentativa
Ah meu amor,o tempo parece ter sido generoso com você e eu lembro que era isso o que sempre pedias!
Trago em meus olhos todo o inferno que encontrei,se você pudesse vêr as chamas
Venho porque preciso tocar você pra me sentir viva novamente,
Estou de volta,preciso me sentir quente
para onde foi transportado aquele frenético amor?
Eu odeio você-por te amar tanto e estar tão longe assim
Eu te odeio
Eu detesto você por não conseguir te matar, acabar com você.Puxá-lo pelo braço.Levar você comigo.
Eu te odeio e tudo o que consigo fazer é um barulho estranho,uma ventania batendo na sua janela...a nossa janela!
Por você me esquecer em outros braços que agora te devoram em nossos lençóis.Eu te enojo.Eu te tenho asco.
Fecho meus olhos de maneira apertada,os seus gemidos são os mesmos e recordo de como era a minha música preferida
e tudo o que sou.... agora um rascunho em um mundo tão frio e esquecido
e esse longo tempo fez questão de deixar sublinhado o que eu era para lembrar que um dia eu existi...
eu sei que eu existi
ainda consigo me ver no porta-retrato na quarta gaveta da mesa rústica..a nossa mesa!
Agora me vou,e em meio a rua movimentada e barulhenta,atordoada peço carona:
-Por favor, me leve de volta ao meu paraíso!
(by me)

Sunday, September 03, 2006

dois passos


Ainda parece estar muito cedo
Não há ninguém levantado
Passarinhos ainda estão em seus iniciais sonos depravados
Então deixo todas as minhas obrigações de lado
E volto para meu precipício abominado
Aqui do alto penso em arremessar todas as minhas coisas fora
Jogar e vê-las cair
Mas logo vejo que não possuo ‘‘minhas coisas’’
Logo vejo que só tenho a mim
Então imagino qual seria o som do meu corpo agonizado caindo sobre essas pedras
Será que elas iriam rir?
E as ondas será que iriam permitir?
Ou alguém lá embaixo iria me acudir?
Todas as frases clichês,
nenhuma me interessa
nenhuma vai me amparar
Então imagino se meus olhos estariam adormecidos quando eu chegasse lá embaixo
Com mais dois passos
Será que minha alma continuaria a viver?
Será que depois estarei calma?
Tente justificar essa minha vontade enquanto você dorme
E antes que você acorde
Darei dois passos e abrirei minhas asas...

(by me)

diversão....


Eu estou parada no tempo
Olhos e sentidos paralisados para qualquer ponto que me traga conforto
Quem mais aqui vai falar algo para me ver mais pra baixo?
Vamos,fale mais palavras que me farão sofrer
Não é disso que faz a sua diversão?
Não é isso que estão planejando por aí?
Fale mais palavras que me façam cair
Na verdade acho que estou me acostumando
Todos juntos, batam continência para uma felicidade que deixou de existir
Você não sabe a sensação de estar rodeada e sentir que estar tão longe disso tudo
Nenhuma palavra parece ser digerida
Acho que agora é hora de mostrar minhas lagrimas que tanto escondi atrás dos olhos
Há uma mascara se desfazendo bem na sua frente
Estar ficando interessante pra você?
Vamos, bata agora na outra face antes que chegue a vez do próximo
Já estou farta daqui
Acho que todos os meus amigos correram para uma outra direção
Na verdade estou só me alimentando
Na verdade estou me fortificando enquanto estou aqui
(by me)